quinta-feira, 4 de setembro de 2014

É uma alga ? É uma planta ? Não...É um molusco fotossintetizante


Imagem 1: Elysia chrorotica
   Somos ensinados na escola que animais são heterótrofos e plantas autótrofas, porém quando se trata do estudo dos seres vivos, quase sempre á uma exceção. Existe um gastrópode (moluscos conhecidos como caramujos, caracóis e lesmas) marinho na costa dos E.U.A capaz de sintetizar seu próprio alimento através da fotossíntese, como se fosse uma alga!
    
A lesma, da espécie Elysia chlorotica (imagem 1), se alimenta de uma alga específica, da espécie Vaucheria litorea. Ela mantém os cloroplastos (organelas das células vegetais e algas responsável pela fotossíntese) ilesos, armazenando-os dentro de suas próprias células de seu extenso sistema digestivo. Esse processo chama-se cleptoplastia, associado a diversos genes. Ou seja a lesma é capaz de "roubar" os cloroplastos das algas que se alimenta e utiliza-los como se fossem dela !!! Podendo sobreviver durante toda sua vida apenas da fotossíntese se ingerir cloroplastos o suficiente.
    
Imagem 2: Corais associados a Zooxantela
   Existem outros seres vivos que se associam com algas para obtenção de alimento, como os corais (Cnidários; Imagem 2), cassiopéias (Cnidários; Imagem 3), esponjas (Poríferas; Imagem 4), moluscos (Imagem 5) e outros seres vivos. Essas algas associadas a esses seres vivos são chamadas zooxantela, havendo uma relação simbiótica entre algas e um seres heterotróficos. Assim como o caso dos líquens, que são fungos associados a algas. Porém com a lesma Elysia chlorotica é um caso diferente já que ela utiliza apenas os cloroplastos das algas que se alimenta.


   O maior mistério era como o molusco conseguia realizar a fotossíntese já que apenas 10% dos genes relacionados a fotossíntese se encontram no cloroplasto, os outros 90% estão no genoma da alga (Vaucheria litorea). Duas hipóteses foram testadas: A de que o genoma do cloroplasto dessa espécie específica possuía 100% dos genes necessários ou a de que o molusco possuía parte do genoma da alga. A segunda hipótese foi comprovada, sendo a mais aceita desde antes dos experimentos. A transferência de DNA entre espécies não é uma novidade, porém a perfeição como ele contínua a ser transcrito e traduzido em proteínas funcionais no molusco ainda intriga os cientistas.

Imagem 3: Cassiopéia
Imagem 4: Molusco nudibranchio associado a zooxantela
Imagem 5: Esponjas


Referências:

Greg Hurst, da Universidade de Liverpool, Reino Unido, ao site Checkbiotech: "a transferência de DNA entre espécies não é uma novidade, porém o que intriga os pesquisadores é o fato de o material genético continuar funcionando dentro do animal que o adquiriu" (adaptado no texto do blog)

http://www.newscientist.com/article/dn16124-solarpowered-sea-slug-harnesses-stolen-plant-genes-.html#.VAkHe_mwIn4 (artigo sobre o animal, em inglês)

Imagem 1: http://en.wikipedia.org/wiki/Elysia_chlorotica

Imagem 2: http://pt.wikipedia.org/wiki/Zooxantela#mediaviewer/File:Montipora_digitata.jpg

Imagem 3: http://www.seaslugforum.net/showall/misccnid

Imagem 4: http://pt.mongabay.com/travel/belize/p20772p.html

Imagem 5: http://pt.wikipedia.org/wiki/Zooxantela#mediaviewer/File:Blue_dragon_closeup.jpg (Fotográfo Jason Marks)



Tardígrade, O imortal

Imagem 1: Tardígrado, foto de microscópio eletrônico.
   Pra quem acha que tamanho define a resistência do animal os tardígrados (Imagem 1) são um grande argumento contra. Animais pequenos apresentando geralmente 0,1 - 0,5 mm de comprimento (registros de alguns "gigantes" com 1,7 mm), pertencentes a um grupo conhecido como Panarthropoda. Costumam viver em habitats semi-aquáticos como filmes de água sobre superfícies ou entre os grãos de areias da praia. Embora possam ser encontrados em grande parte do mundo, não são animais muito conhecidos pelas pessoas geralmente. 
   
Imagem 2: A: Cisto desidratado; B: Cisto hidratado.
   Assim como outros seres vivos podem entrar num estado de anabiose, um estado de dormência que envolve uma grande redução da atividade metabólica durante condições desfavoráveis segundo a definição de Brusca&Brusca (2007). Até ai tudo bem, porém eles podem ir além disso atingindo um estado de criptobiose um estado extremo de anabiose, na qual todos sinais externos de atividade metabólica estão ausentes (Brusca&Brusca, 2007). O animal forma um cisto (Imagem 2) puxando as pernas para dentro do corpo, perdendo água e secreta substâncias em volta do corpo mantendo apenas um metabolismo basal bastante baixo (anabiose), podendo reorganizar-se dentro do cisto de forma a ser indetectável qualquer tipo de metabolismo (criptobiose). O animal aparenta estar morto e pode manter-se nesse estado de cisto por anos. O mais antigo foi encontrado numa amostra de musgo seco e tinha 120 anos ! O animal "voltou a vida" ao ser umedecido (Brusca&Brusca, 2007).
   
   A resistência desses cistos foram testadas por cientista através de vários experimentos em condições extremas: Foram mergulhados em salmoura, éter, álcool absoluto e hélio líquido; exposição a temperaturas variadas de -272ºC á 149ºC; exposição a raios ionizantes; colocados em câmaras de vácuos e passaram longos períodos sem oxigênio (Brusca&Brusca, 2007). Em todos os casos após ser umedecido o animal desencistou e "voltou a vida" como se tivesse apenas acabado de acordar de uma noite de sono normal.

Rumo ao domínio do mundo !

Referências:

BRUSCA, R. C.; BRUSCA, G. J. Invertebrados. 2ª ed. 2007 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. Cap. 15, pág. 485 á 487.

Imagem 1 e 2: http://jamesminshall.com/2012/09/20/tardigrades-microscopic-lifeforms-from-this-world-or-another/

Imagem 3: http://fyeahtardigrades.tumblr.com/